domingo, 24 de outubro de 2010

Justificando o Injustificavel

Calado já tá errado


Domingo passado, o sonho do Paysandu de ascender à Série B do Brasileiro virou pesadelo e foi adiado para 2011. A derrota para o Salgueiro, em plena Curuzu, entrou para a história dos quatro anos de esperanças e tentativas frustradas de ensaiar um retorno ao futebol de elite do Brasil. Com o revés, aconteceu a tradicional caça aos ‘culpados’ e um dos alvos é o técnico Charles Guerreiro que concedeu esta entrevista exclusiva ao Bola e não se furtou de comentar sobre tudo o que viveu nesses meses em que comandou a tentativa de levar o Papão à Série C.

Reporter – Com a derrota lhe apontaram como o principal culpado pela eliminação do Paysandu. Como é lidar com isso?

CG – Depois da perda de um acesso desses, são normais as cobranças em cima do técnico e do presidente. Se você for ver as manchetes de rádio, TV e jornal é só ‘o técnico e o presidente’, você não vê jogador. É muito fácil pegar alguém pra Judas. Eu acho injusto, por tudo o que foi feito e trabalhado. Imagina a minha cabeça que tenho uma história no futebol. Foi trágico, é o sentimento da perda de um parente, só o tempo vai dar uma aliviada no coração.

Reporter – O que há de verdade sobre a cobrança do ‘bicho’ às vésperas do jogo? Isso prejudicou mesmo o desempenho dentro de campo?

CG – Depois que acontece tudo, é fácil falar. O Luiz Omar se pronunciou sobre isso, mas o que posso falar é que ele me chamou na noite de sábado e disse que estava muito preocupado em relação ao que conversou com o jogador (Sandro) sobre a premiação. Mas eu não acredito (que tenha prejudicado dentro de campo). Muita coisa estava em jogo, o prestígio, o dinheiro de uma Série B. Eu conversei com o Ney (Carioca) e a premiação do Salgueiro era 30 mil reais e duas motos. Então o interessante seria subir, o prestígio. Por isso não dá para acreditar. O triste é que tudo aconteceu nesse jogo, a premiação, o time não foi bem. O início foi bom, mas parece que o gol fez mal ao Paysandu, porque o time acomodou.

Reporter – Criticaram suas indicações, como o Jean Sá e o Fernandão...

CG – O Jean eu até falo, não deu para dar oportunidade a ele, mas o Fernandão foi do Flamengo, fez dois gols contra a gente, na época em que eu estava no Cardoso Moreira. E trouxe o Bruno Rangel, artilheiro da competição. Agora se você for ver os erros no jogo, foram de falha individual, tomamos um gol por reposição de bola do goleiro, o Fernandão não teve culpa. Tomamos outro gol em um cruzamento, em relação à lateral, com o Aldivan, e ele não estava lá. Quando ele saiu o jogo estava 1 a 1.

Reporter – Seu estilo calmo também foi interpretado como se tivesse faltado um certo pulso com os jogadores. Pretende mudar isso?

CG – O Paulo Autuori e o Oswaldo de Oliveira são pessoas tranquilas, do meu estilo que conseguiram ir pra frente como treinadores. Isso não interfere em nada. Tem momentos que é preciso ser duro, tem jogador que é folgado, eu sei, mas não tenho por que mudar minha personalidade.

Reporter – Se continuares como técnico do Paysandu, o que precisa mudar?

CG – Colocar alguém para gerenciar na ausência do presidente, que é muito grande. Alguém centralizado, um elo para a gente não se expor muito e bater de frente.

Reporter – Mas o Didi é o atual gerente...

CG – Mas ele não conta, nem tem história no clube. Ele vai ajudar em quê? Nem no Time Negra. Ele tem é que pegar as trouxas dele e ir embora daqui, seguir a vida dele. A verdade é que ele no Paysandu mais atrapalhou do que ajudou.

Reporter – Ele disse mesmo que ia lhe prejudicar?

CG – Sim, todo mundo sabe disso. O Pompeu está de prova. O Didi sabe disso.

Reporter – As demissões já começaram. Quem deveria ser mantido na sua opinião?

CG – Tem que ter uma espinha. No setor de defesa crucificaram o Paulão, mas ele foi regular em todos os jogos. O Bosco teve um momento muito bom. O Tácio foi regular. O Sandro, mas dificilmente ele deve continuar no clube pelo que aconteceu. Tem o Bruno Rangel, que já deve ter outras propostas, o Marquinho que foi muito criticado, mas é importante pro grupo. A dupla de zaga. Temos que manter uma base para não errar mais.

Reporter – O que falta para o Paysandu subir de divisão?

CG – As pessoas que dizem que gostam do Paysandu têm que se unir mais. É muito ti-ti-ti. Falam dos técnicos locais, mas o melhor desses aqui fui eu. Ficam plantando fofoca aqui, isso vai minando e vai atrapalhando o trabalho. É preciso de um gerente geral, que só deixe entrar quem realmente gosta do Paysandu. Tipo um Sérgio Papelin (gerente do Fortaleza). Aquele sim é profissional (risos). (Fonte Diario do Pará)